quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Crônica verídica

Achei esse texto no site da Revista Crescer... resolvi colocá-lo aqui porque é a mais pura verdade... já dizia minha irmã:"mãe é imaculada"... nada deveria acontecer com mãe... e quando acontece dói em nós... queremos fazer de tudo para aquilo não acontecer... hoje, que sou mãe, sei que a recíproca é verdadeira, não queremos que nada aconteça com nossos filhos...

O que se sente quando uma mãe cai da cadeira?
Marcelo Cunha Bueno

"Demorei 30 anos para entender... não por falta de compreensão, mas pelo fato de minha mãe ter caído somente ontem da cadeira, na minha frente. Não consegui segurá-la, foi rápido demais. Aqueles três segundos de queda mostraram-me uma face de minha mãe que jamais havia sentido ou percebido.
Escutamos o primeiro “cleck”, ninguém disse nada. Ela se levantou para ver os gols da Itália e, quando foi se sentar, o segundo e derradeiro “cleck”. Seu olhar caindo estatelado ao chão foi de desespero e pureza. Um olhar de socorro que pedia uma mão para segurá-lo. Seu corpo foi, aos poucos, inclinando-se em direção ao chão e seus pés levantaram-se juntamente com seus braços, e seu rosto... Ah! Quase não posso me lembrar dele! Seu rosto torcia-se de medo! Constatação um tanto difícil para um filho: mães sentem medo!
Ao cair, inutilmente ela tentou se segurar na toalha da mesa, não conseguiu! Suas mãos levaram uma taça de minha bisavó ao chão. Os óculos de seus olhos de desespero foram para abaixo do nariz. Ela estava presa entre a mesa e a parede. Como foi parar ali? Aquela mulher cheia de vida, corajosa, que me consolava nos meus tombos de infância? Eu não sei consolar mãe caída! Enquanto caía, gritei assustado “mãããe”, para ver se ela parava com aquilo de cair na minha frente! Levantei-me e segurei seus braços. Pude sentir a minha força ajudando seu corpo a se levantar. Olhei em seus olhos e vi que nunca estamos preparados para crescer ou perceber que, uma hora, todos nós chegaremos em lugares que antes não nos pertenciam.
Tive vontade de segurá-la no colo, agradar sua cabeça, chorei contidamente. Tentei limpar os cacos do chão, os do copo e os meus. Havia vinho por toda a parede. Ela reclamava do copo quebrado. Talvez não fosse ele a questão. Troquei de cadeira e continuamos a jantar. Não éramos mais os mesmos. Algo foi invertido naquele momento. Invertemos os papéis. Os dois perceberam isso. Não reconheci a minha mãe ao chão. Não reconheci aquele homem que tentou segurar o tombo da mãe. Difícil lição essa de crescer! Difícil lição essa de amar incondicionalmente alguém desde que nascemos. Dizem que é preciso tombos na vida para crescermos. Concordo plenamente, mas precisava ser o tombo da mamãe?"

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